O Casarão abre suas portas para a música


Por que Música?


O Casarão do Belvedere foi associado desde agosto de 2005 às artes cênicas. Quando o Espaço Cultural dona Julieta Sohn foi criado, era para que, no seu imóvel sede, tombado pelo Conpresp, estivessem representadas todas as expressões artísticas. Agora, neste ano de 2012, sem abandonar o teatro, resolvemos propor ao público de São Paulo e aos nossos frequentadores mais música, arte pouco contemplada nas nossas atividades. Por diversas raões, tudo o que pudemos propor no Casarão foram alguns concertos dentro das Viradas Culturais (http://casaraodobelvedere.com.br/paginavirada.html) e (http://casaraodobelvedere.com.br/programacaomusical.html)
As características do imóvel, diga-se de passagem, são ainda mais condizentes com a música. Seus salões “combinam” com a música de câmara. As técnicas construtivas dos anos 20 do século passado são perfeitas para dar a acústica ideal a fim de se ouvir uma voz, um instrumento.

No final de 2011, encerrando a temporada do Casarão, apresentou-se o recém-formado Grupo Aurita. O grupo aqui realizou a última apresentação de uma série que começou na Casa das Rosas. Fui lá conhecer o que o jovem grupo tinha preparado. Fiquei impressionado pela qualidade artística. Uma coisa rara, um programa adequado aos músicos e estudado a fundo. Sentia-se uma perfeita harmonia entre todos. Angélica Duarte, a soprano, na apresentação inicial do concerto, disse: “Hoje em dia, todo jovem músico tem vontade de se reunir a outros e criar uma banda. Foi o que fizemos. Criamos uma banda de música barroca”. Certo o raciocínio, claro e objetivo. E o que produziram foi, repito, muito bom.

Desse grupo de jovens, dessa frase da Angélica, veio o mote para o projeto que ora propomos ao público. Nosso objetivo maior sempre foi o de incrementar e implementar projetos de jovens artistas. Sem recusar os consagrados e reconhecidos, mas dando sempre um empurrãozinho para que os jovens pudessem mostrar seu trabalho com menos entraves e percalços. Sem burocracias.




O projeto que ora inauguramos tem como objetivo primeiro mostrar ao público o que se cria nesta cidade. Quem são os artistas que temos e que não conhecemos.

Muitos desses artistas estão reunidos em vários grupos distintos. Em diferentes formações.
Eles têm objetivos plurais enquanto artistas. Poucos, pelo que vi, estão preocupados com carreiras de solistas. Essa pluralidade e diversidade nos próprios indivíduos também é matéria a se fazer conhecer pelo público.




Em tempos, eu diria, para ser gentil e nada irônico, muito difíceis, em que a cultura musical, num país tão rico musicalmente como o Brasil – em Música, compositores e intérpretes – e que hoje se vê submerso por aquilo que eu chamo de catástrofes em Dó Maior, com vozes cujos timbres me provocam mal-estar físico, fomentar um projeto desses é uma resposta para fazer todo um público começar a saber que pelo menos tivemos e temos, na nossa Música, compositores como Villa Lobos, Chiquinha Gonzaga e um Chico Buarque, citando a esmo. Que um dia tivemos antes Elizeth Cardoso e depois uma Elis Regina. Porque se falarmos de Niza de Castro Tank nem sei que reação teremos do nosso interlocutor! Contando uma historinha: Alguns anos atrás, numa loja de um shopping center, querendo comprar um disco da Elizeth, ouvi do vendedor: “É uma cantora nova?” - virei as costas e sai da loja, e fiquei rindo nos corredores!

Eu sei, por praticar esse jogo “perverso” de quando em vez, qual o resultado de se convidar um indivíduo de 30 anos a entrar pela primeira vez no Teatro Municipal ou na Sala São Paulo. O efeito que provoca uma orquestra sinfônica, tocando Beethoven ou mesmo uma sinfonia de Mahler. O resultado é retumbante. Pouco importa se ele entendeu. A fascinação do próprio espetáculo dado pelo conjunto de músicos basta. É o ponto de partida para uma educação musical. Ele não sai de lá como entrou. Tem novos parâmetros. Mas passemos adiante.



Minha formação musical começou frequentando o Theatro Municipal de São Paulo. Nos Concertos Matinais sob a regência de Armando Belardi. Mais tarde, vi minhas primeiras óperas lá. Na adolescência, em companhia de José Roberto Prazeres (in memoriam), já imaginávamos juntos encenações para a Traviata. Em 1965, com a Juventude Musical de São Paulo, já montávamos os Concertos AudioVisuais da Juventude Musical de São Paulo. No Cinerama da Av. São João e no novíssimo Cine Belas Artes. (http://zecapaes.sites.uol.com.br/juvmusic.htm)

Dois adolescentes de 15/16 anos. Concordo que aos sessenta virei animador de espaço cultural, mas enfim foi um tempo rico, ninguém poderá discordar. Quando imagino um projeto como esse, é nesse sentido que penso contribuir para a formação dos jovens de hoje.

Se hoje não mais encenarei a Traviata, pelo menos proponho um projeto de música!

Place à La Musique! Música no Casarão.

Paulo Goya 2012



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